quinta-feira, 17 de junho de 2010

1º Encontro

Há muito não escrevia sobre algum filme em especial. Talvez por conta dos trabalhos da faculdade em que tenho de escrever sobre... filmes. Ultimamente tenho vistos bons filmes, alguns excepcionais, mas ontem saí da sessão de Encontros e Desencontros (Lost in Translation) com vontade de escrever; e assim me ponho a tal.
A primeira vista podemos imaginar que se trata de um filme tolo, uma comédia romântica sem muitos atrativos - detalhe que o título em português parece querer confirmar (que ironia!) -, mas quem o comprar assim, por inteiro, perderá, nos detalhes, sua riqueza.
Antes de mais nada, quero dizer que ainda não li, nem conversei com ninguém (com exceção da Jaqueline, minha parceirinha) sobre o filme. Portanto, se estiver dizendo alguma bobagem peço que relevem; até porque não pretendo fazer deste texto um ensaio, ou uma crítica formal e sim, uma representação de leitura impressionista mesmo.
O filme começa com um plano deliciosamente indiscreto, algo moderninho, criando uma sensação leve de conforto. Mas a indiscrição de Encontros e Desencontros é em outro sentido.
Bill Murray interpreta um personagem que remete a si mesmo. Um ator de Hollywood velho e decadente que vai ao Japão filmar um comercial de Whisky. No hotel, ele conhece a linda Charlotte (Scarlett Johansson), jovem mulher de um fotógrafo sempre ausente.
A narrativa é muito simples, sem grandes pretensões; como disse anteriormente, a riqueza está nos detalhes. A relação entre os dois, como em um jogo de caixas, existe em um microcosmo de insatisfação e dúvida, dentro de um hotel, situado numa Tóquio onipresente, veloz, barulhenta, colorida, cheia, vazia; como qualquer grande cidade, síntese do mundo em nossos “tempos modernos”. E isso fica bem claro nos planos gerais e nos movimentos de câmera que parecem sempre direcionados no sentido de mostrar algo além da superfície, além da pele, dos prédios, da estabilidade, do conhecimento, das Ikebanas. Como o olhar triste de um voyer, desinteressado na forma, contemplativo na essência, os personagens de Encontros e Desencontros parecem saídos de um filme da Novelle Vague francesa; extremamente solitários, carentes de algo que não sabem ao certo o que é. Eles vagam pela cidade, pela noite, pelos bares, pelos canais de TV, sempre a procura de um sentido, seja lá qual for. Os mapas e os intérpretes os ajudam nos caminhos, mas eles não estão perdidos apenas na tradução, mas no próprio mundo que construíram através de suas escolhas.
Tóquio talvez seja a metrópole mais fascinada pela imagem, pela luz e pela aparência. Ao contrário, em Encontros e Desencontros nada é aparente; existem apenas nuances de possibilidades. Até mesmo o humor triste e a melancolia que pontuam o filme, têm de ser suavemente garimpados. Sem dúvida, Sofia Coppola ofertou um belíssimo presente aos olhos espertos e, principalmente, aos corações sensíveis.
Marcio Leandro Oliveira
Niterói, 03.02.2004

Um comentário:

  1. Olá!
    Gostaria de entrar em contato com a organização do Cine Drops UNIRIO para propor uma parceria e pedir sugestões no tocante à sessões de filmes e debate.
    Obrigada
    meu emmail é belunirio@gmail.com
    Isabela (Biblioteconomia UNIRIO)

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